sábado, 27 de agosto de 2011

Pedagogia Espírita: uma visão integral do homem


Allan Kardec, discípulo de Pestalozzi, trabalhou durante 30 anos em prol da educação antes de adentrar nos estudos relacionados ao Espiritismo. Sua obra didático-pedagógica é vasta e foi adotada pela Universidade de França. Todavia, a 1ª instituição espírita do mundo foi a Sociedade de Estudos Psíquicos de Paris, onde se pesquisava sobre os aspectos científicos, filosóficos e morais do Espiritismo. Seus participantes estudavam e debatiam acerca das questões existenciais, fenômenos mediúnicos, fatos científicos gerais, tendo sempre como base de estudo o Espiritismo.

No Brasil, a primeira escola espírita teve início em Sacramento-MG, em 1909, com a criação do Colégio Allan Kardec, sob a direção de Eurípedes Barsanulfo e, a partir de então, as escolas espíritas têm aumentado em quantidade e aprimoramento pedagógico. Em 1984, no Congresso de Mar Del Plata, cuja temática era Educação, a educação espírita foi reconhecida de forma institucionalizada e a Revista Educação Espírita atualmente tem circulação internacional.

As escolas espíritas foram se desenvolvendo e já são uma realidade no contexto nacional, portanto faz-se necessário conhecermos essa Pedagogia orientada para a educação não apenas intelectual, mas também moral, cujo objetivo é formar mentes, formar atitudes transformadoras, integrar o ser na sociedade na qual está inserido, de forma adequada e ética.

A Doutrina Espírita, ao contrário de outras correntes religiosas, não prega ideias salvacionistas, pois como nos diz Kardec (L.E. q. 796), somente pela educação podemos reformar o homem e o mundo. A educação é a grande desenvolvedora do ser, do educando visto como indivíduo com uma consciência única, necessitando conseguintemente ser assim visto pelo educador.

De acordo com Hupert (apud PIRES, 1985) “educar é um ato de amor”, a partir do momento em que um ser formado busca, através de sua prática profissional e de vida, formar novos seres que estão sob sua orientação, o que vai ao encontro do pensamento de Incontri (1997), quando diz que “educação é a influência que um espírito exerce sobre outro(s) no sentido de despertar um processo de auto educação”.

Não podemos esquecer que o pensamento básico da Pedagogia Espírita é o de a criança ser um espírito reencarnado, trazendo consigo experiências anteriores as quais devem ser respeitadas, trabalhadas e reformadas para que este ser em formação evolua moral e intelectualmente, levando em consideração o fato de que ao reencarnar, o ser, neste caso o educando, não traz apenas experiências negativas, mas uma bagagem positiva de todas as conquistas alcançadas.

Há, ainda, a considerar que a palavra chave da Pedagogia Espírita é amor, sem tornar a educação idealizada ou mística, porém no sentido de que o educador que ama seu trabalho e aqueles que estão sob sua orientação saberá encontrar o caminho para alcançar seus orientandos, saberá cristalizar no outro a vontade de crescer, conduzindo, o educador, o potencial do educando para a realização da educação, pois educar, do latim “educere”, significa “tirar, extrair de dentro e conduzir”.

Conduzir, no caso específico abordado, para o desenvolvimento moral/intelectual do ser em formação, lembrando que a “educação não é um ato de imposição, de violação de consciência, mas um ato de doação” (PIRES, 1985, p. 13), em que o educador ajuda o educando a integrar-se socioculturalmente, a responder aos diferentes desafios de seu mundo através do jogo constante de suas respostas alterando-se, reorganizando-se, escolhendo, negando, criticando, enfim, conscientizando-se a partir do instante em que se percebe capaz de fazer(se) e refazer(se).

Para a Pedagogia Espírita, o educando é um ser pluriexistencial e o educador é o “elo de continuidade da educação” (LOBO, 1995, p.58) e, sem essa compreensão e aceitação da criança como ela é, “a educação dela estará comprometida” (LOBO, 1995, p. 65). Educação Espírita, de acordo com Herculano Pires “é o processo de orientação das novas gerações de acordo com a visão nova que o Espiritismo nos oferece da realidade”, tomando realidade como sinônimo de mundo e de homem.

Entretanto, sendo a liberdade de consciência um dos princípios básicos da Doutrina Espírita, a Pedagogia Espírita não se propõe abarcar as pedagogias existentes, pelo contrário, as escolas espíritas que hoje atuam da Educação Infantil ao ensino universitário procuram realizar um trabalho voltado não apenas para os problemas imediatistas, e sim desenvolver elementos racionais que ajudem na formação moral/espiritual do educando, tendo como finalidade o crescimento do ser integral, objetivando o melhoramento do mundo por meio do seu comportamento reformado.

Finalmente, conforme Lobo (op.cit.), os fins da educação espírita nos levam, sob o aspecto individual, a lutar pela espiritualidade; no plano social, a trabalhar pelo progresso coletivo; no nível político, a formar uma elite intelectual/moral e, na ordem do absoluto, primar pela essência: DEUS.

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